segunda-feira, 23 de março de 2020

A confirmação e o início do isolamento



Fiquei em meu quarto e meu marido com as crianças no restante da casa. 
Acreditava que meu exame daria negativo, então não me preocupei. Como disse anteriormente,
acreditamos que nunca vai acontecer conosco e eu não acreditava que comigo seria assim.
Fiz o isolamento, mas algumas vezes saia do quarto de máscara e luvas para pegar água, ou outra
coisa.
O mais difícil é ficar sem meus filhos e meu marido. Ouvi-los pela porta e não poder fazer nada, me
deixa angustiada.
O primeiro dia de isolamento foi bem complicado ficar ouvindo sem saber o que acontecia, sem saber
o que fazer e sem contato físico. O ser humano foi feito para ser comunitário, para viver junto, não
isolado, isso é algo que pode enlouquecer qualquer um.
Fiz várias chamadas de vídeo via Whastapp, ligações. Avisei a maioria das pessoas que tiveram
contato comigo, mas não tinha como avisar todos e nem tinha certeza do que estava acontecendo.
Comuniquei o condomínio onde moro, onde os vizinhos foram extremamente solícitos em ajudar.
Compraram fraldas, bombons... Foi difícil dormir, mas consegui.
No segundo dia de isolamento, baixei joguinhos no celular para manter-me ocupada, meu filho trouxe
café para mim. Liguei no hospital para ver quanto ao resultado. Me passaram o telefone do laboratório,
a pessoa do laboratório informou que o resultado sairia apenas no sábado a partir das 16 horas.
Meu Deus! Essa angústia não passa. Tive muitas dificuldades em dormir neste dia.
Acordei no terceiro dia com o celular tocando, para minha surpresa a enfermeira Aniely ligou para falar
o resultado do exame: POSITIVO PARA COVID 19. Fiquei muda, sem ação. Medo de morrer, medo
de nunca mais ver meus filhos, medo de tudo que já tinha ouvido falar sobre. Ela me disse para manter
a calma que o vírus estava mais fraco, que era para manter o tratamento passado pelo médico que tudo
daria certo. A princípio fiquei sem ação, meu filho tentou abrir a porta do quarto e dei um grito:
SAI DAQUI! FECHA A PORTA E NÃO ABRE! 
Liguei para meu esposo e contei. Chorei muito, entrei em desespero. Ele tentou me acalmar e disse que
tudo ficaria bem, que logo estaríamos juntos novamente. Recebi ligações da Secretaria Municipal de
Saúde questionando como estava.
Minha vizinha trabalha numa rede de televisão local e pediu para gravar um vídeo para a população,
alertando sobre a quarentena, eu aceitei. Fiz o vídeo e me deu um pouco de paz. A repercussão do
vídeo foi imediata, meu celular não parava de apitar, mensagens, ligações, facebook, instagram…
Foi bom e ruim, pois meu emocional estava bem abalado ainda, assim chegou um momento que não
queria mais atender ligações nem ouvir o celular tocando... Acho que foi o dia mais difícil. Um medo
enorme tomava conta de mim… Medo de não ver mais meus filhos, meu marido, minha família,
meus amigos, as pessoas que amo…
Meu sobrinho acabou sendo nosso UBER do Covid… Apelido que demos, pois apenas ele da família sai
de casa para providenciar o que precisamos nesse período...


Quando chegou à noite, era o momento mais difícil, momento que normalmente estamos em família e
conversamos… Liguei por vídeo para meu marido e ele na sala, eu no quarto choramos… Foi difícil,
mas consegui pegar no sono. Parecia um bife fritando na cama, virava de um lado para o outro, medo,
angústia, ansiedade… Lembrei da enfermeira que se colocou à disposição para qualquer coisa, mandei
mensagem e ela me disse para tomar um relaxante muscular para ajudar. Enfim, consegui dormir.
Acordei no quarto dia de isolamento, era aniversário do meu marido. Pensei em como fazer o dia dele
ser especial de dentro do quarto? Liguei para minha irmã Gisa, ela, os meus sobrinhos e meu cunhado
havia tido uma ideia, de fazer um bolo, meu sobrinho traria o bolo aqui com as coisas que precisávamos
enquanto isso, minha filha mais velha estaria com todos da família, por vídeo no celular para cantarmos
parabéns. Adorei a ideia, para me ocupar já criei um grupo no whatsapp e adicionei todo mundo da família
para esta homenagem. 
Baixamos o aplicativo ZOOM e com ele todos conseguimos estar online juntos ao mesmo tempo. Sou
muito festeira e ainda achava pouco para demonstrar todo o meu amor por ele e gratidão por tomar
conta de mim. Mandei mensagem no grupo do condomínio para cantarmos parabéns para ele da sacada
todos juntos em algum horário, combinamos as 19 horas.
Pedi para minha vizinha colocar no ar nossa festinha, para mostrar para a população que o isolamento é
necessário, porém conseguimos mostrar nosso carinho mesmo distante, mesmo isolados. 
A festinha foi um sucesso, todos juntos: São Paulo, Jundiaí, Guarulhos e Londrina. Meu marido adorou!
Depois os vizinhos cantando parabéns e orando o Pai nosso na sacada, foi muito emocionante.


A repercussão do meu vídeo foi grande e ainda recebia muitas mensagens de carinho, solidariedade e
compaixão de diversas pessoas… Conhecidas ou não… Algumas me ajudaram, outras não, por isso
consegui por uma das minhas vizinhas contato com uma psicóloga de outra cidade, pessoa muito
competente que nem sequer me conhecia e se dispôs a me ouvir e ajudar…
A noite foi chegando e a insônia chegou junto… o medo a angústia, a ansiedade… Tomei o remédio,
porém não conseguia relaxar e dormir… Minha base, meu sustento era meu esposo… Liguei por vídeo
e conversamos um pouco, ele relatou que sentiu se muito amado, como se todos estivéssemos juntos
fisicamente, mesmo não estando e que logo estaríamos juntos novamente, para me acalmar e dormir…
Tentava em vão, depois de quase 1 hora deitada consegui pegar no sono, contudo levantei às 2:40 com
azia, meu estômago queimava, não tinha esse sintoma até o momento… o medo e a angústia voltavam
e não conseguia relaxar… coloquei a máscara e mesmo com todas as restrições sai do quarto e acordei
meu marido que dormia no sofá… pedi um remédio anti ácido para o estômago, ele pegou e jogou no chão
do corredor para mim, tomei e tentei dormir… o que demorou um pouco para acontecer, rezei muito, como
todos os outros dias para conseguir dormir… Não sei que horas dormi, mas sei que foi a noite mais tensa
até hoje…
Na manhã seguinte, acordei muito sonolenta, com desânimo e falta de apetite.. Tive diarreia e muito enjoo…
Entrei em contato com o anjo que me ajudava sempre: enfermeira Anyele… Ela disse que era normal
que iria passar e que, de alguma forma eu estava eliminando o vírus para não cortar. Pediu  para me
hidratar bastante. Disse para ela que sentia tosse ainda, ela disse que era normal permanecer por alguns
dias… Ainda mencionou que eu estava nas orações dela, que era uma mulher guerreira e que isso tudo ia passar… Eu quero muito conhecer pessoalmente esse anjo.
Fiquei o dia todo com moleza, falta de apetite, dormi praticamente o dia todo, tomei remédio para a
ansiedade que não saia de mim, pedi ao meu marido uma sopa para comer para tentar ficar em pé. Duas
amigas me ligaram e não atendi, não queria falar com ninguém. Queria ficar quietinha… Tomei um banho
demorado e depois mandei áudio para elas pedindo desculpas e explicando a situação… Elas entenderam
e me deram apoio… 
Lembrei que uma das minhas professoras da UEL (Universidade Estadual de Londrina) havia me mandado
um áudio… Eu não tinha escutado… Escutei o áudio e começamos a conversar, ela  também está em
isolamento há 9 dias, contudo o exame dela está sem resultado. Assim, a professora me disse para
começar a escrever sobre a minha experiência de isolamento, isso poderia me ajudar e ajudar a outras
pessoas também… 



Então, aqui estou!!! Realmente escrever essa primeira publicação me ajudou a passar o tempo….
Tenho certeza que lembrarei de algumas coisas que não coloquei aqui… peço que tenham paciência…
Com certeza farei postagens sobre tudo que está acontecendo, mas aos poucos… 


Agradeço a todos que de uma forma ou de outra estão orando por mim.

















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